O presidente Lula o faz sem rodeios. Reafirmou que mesmo que o congresso fique contra, ele vai fazer reformas. Depois que escrevi na coluna da semana passada que acho jóia que o Presidente faça mudanças, alguns conhecidos fingiram que não me ver na rua, mas recebi alguns cumprimentos.
Porém, a verdade, quem saberá? Talvez tenha me precipitado.
De que reformas estará falando?
Da reforma na previdência, espero... Meu correspondente em Frankfurt aumenta minha angústia ao comentar: "O seu presidente diz uma coisa, mas o ministro Amorim diz outra". Pergunta o que nós brasileiros pensamos da intimidade do nosso Lula com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, se percebemos que esta aproximação é indício do rumo que as coisas podem tomar na potência Brasil. Respondo que não sei, que vou ficar atenta.
O noticiário diz que o nosso Lula é muito habilidoso, que esta avançando em conversações com o Fidel Castro e com o Hugo Chávez, dois líderes que sempre foram difíceis em diálogos. Não quero ser cega, fico na ponta dos pés, espicho o pescoço, arregalo os olhos.
Só enxergo uma densa nuvem envolvendo o poder, o propósito é o de confundir, nos tornar uma multidão de neurastênicos, pendentes e dependentes de suas decisões, que somos, roendo as unhas, estralando os dedos e torcendo para que, apesar dos titubeios e deslizes, no final, más decisões não nos arranquem o couro.
Cabeça entre as mãos – canseira. Sou tomada de desânimo e dúvidas. O presidente da Venezuela, apesar das críticas, pode não ser o bicho que estão pintando. Será boa companhia para nosso Lula? Abro o jornal e dizem que ele luta contra os interesses escusos que os americanos tem em seu bonito e petrolífero país.
A Venezuela é o quarto maior exportador mundial e o terceiro maior para os Estados Unidos. Uma amiga venezuelana argumenta que o que falam de bem sobre ele é fruto de uma campanha publicitária milionária, que ele acabou com as instituições democráticas.
Muitos venezuelanos declaram que ele é um ditador autoritário, outros dizem que ele reformou seu país, para melhor.
Meus olhos ardem, já passa da meia noite, entre descobrir a verdade e seguir sendo assaltada por todas as dúvidas possíveis, chega a madrugada.
A única certeza é que já não conseguirei mais fazer a caminhada matinal, talvez nem trabalhar a manhã toda, tampouco com alegria. Certamente essa cara acordará às dez da manhã, amarela, amassada, com olheiras de panda; a imagem desoladora refletida no espelho será o fruto de meus questionamentos. Igual os sofistas gregos, concluo que vivemos em um mundo estruturado para confundir. Se pegamos o caminho errado? Na chegada ao inferno, encontraremos os demônios que nos iludiram em vida, nos recebendo aos berros : -Otários, entre gargalhadas. Isso, ainda? Sem encontrar a solução para estas questões sobre as quais pondero por idealismo e nas quais os outros trabalham por dinheiro, concluo que o melhor que tenho a fazer é...pesquisar mais um pouco!
Desenvolver ceticismo. Na net peço uma pesquisa sobre Fidel Castro. Na tela abre-se um quadro vermelhão com letras brancas, foices e pontas se chacoalham e fazem círculos. Salto fora, ouço a voz da minha mãe entranhada em meu subconsciente me mandando dormir.
A mãe, prática, responde: - Você se desgasta à toa, quer morrer cedo? Quem se interessa em tornar este mundo sensato? Você ouviu hoje mesmo na voz do Brasil, que o neto do senador mais criticado do país, foi eleito deputado, dando assim, seqüência à oligarquia familiar? Desliga isso e vai dormir! Amanhã tens que trabalhar no quadro para o concurso, passar no banco, falar com a Têre, procurar as notas fiscais do rádio que estragou, entregar o vídeo na locadora, não te basta?
Desligo o computador e me deito vestindo o blusão de lã de lhama. Em Erechim estamos a
Dezenove pessoas morreram e oitenta e oito ficaram feridas.
Isso é real ou pesadelo?
Vou escrever uma carta pedindo ao nosso Lula que seja mais pragmático em seus discursos, que se afaste deste menino...o Hugo Chávez... e que não esqueça de escovar os dentes antes de dormir...
Crônica que escrevi e foi publicada no Jornal Diário da Manha -Erechim RS, 28/06/2003
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