sábado, 31 de agosto de 2019

Uma cozinha de ideias

Cozinha que idealizamos e construímos.
 Detalhe da biblioteca que dá para a cozinha, com meus livros favoritos sobre gastronomia
Transformamos tudo num espaço só com nova sustentação e embelezamento para economizar em iluminação -também.
 Abrimos uma porta para os fundos para ver os pássaros no terreiro, as cachorras deitadas no sol e as vacas no potreiro do vizinho enquanto cozinho, na foto está fechada pois estava chovendo.

Esta toca quentinha e engraçadinha foi tricotada pela minha mãe.
Sobre a cozinha era isso, volto noutro post para mostrar nosso fogão militar à lenha.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Curriculum Giane Pereira Soares

A minha amiga disse que tinha uma casa para vender em Santa Catarina, o meu amigo queria comprar uma casa, ele aparentemente era rico, mas na minha percepção ambos eram do mesmo nível econômico, pois eram do mesmo cultural. Eles não se conheciam e nem eu, pessoalmente, a ambos, só éramos conhecidos virtualmente e quero crer que nos apreciávamos pelas postagens de nossos conteúdos e comentários de amigos sobre uns e outros.
Então, fiquei tão feliz de poder dizer, fulano, fulana tem uma casa para vender, veja as fotos!
Ai, ela entrou em contato e passou uma segunda batelada de fotos, e me explicou que sua casa era muito simples, embora nas fotos parece muito legal, tudo aquilo era carinho, na verdade era um imóvel considerado não "de primeira", com algumas falhas no material, no acabamento, enfim, era legal, mas não era supimpa. Foi a primeira vez que pensei nisso, nestas definições imobiliárias que fazem com que uma pessoa não defenda que sua casa é a melhor do mundo até o fim.
Estou há anos reformando esta casa onde vim morar  com meus filhos em 2013, a gente limpa, pinta, conserta um esteio, o outro ameaça cair e só dá para consertar dalí um pouco, no último momento antes de cair e por necessidade extrema.
Mas eu durmo bem -talvez demais - e dentro dele, embora tenha adquirido alguns problemas físicos como dores musculares e problema de coluna, nos ombros, acabei por me reformar emocionalmente. Quer me parecer que enquanto a gente vai desdobrando a matéria para ela virar outra coisa, carregando folhas para a compostagem, endireitando um portão, colocando uma trava li, uma janela aqui, vai modificando a maneira de pisar no mundo, de se firmar, de entendê-lo.
Aqui, meu quarto tem por fora a largura de um conteiner pequeno destes que os navios carregam, mas quando me deito todos os dias, cansada, o silêncio da zona rural elimina as paredes e posso ouvir um galho quebrando muito longe, no mato, saber quais os vizinhos, desde os mais próximos até os mais distantes que o ouvido alcança , têm galos madrugadores. E se incluirmos o tamanho dos universos que visito em sonhos resulta que é um imóvel imensurável.
Aqui nunca terminará a reforma enquanto a casa seja esta e não substituída totalmente no material, pois sempre haverá um marco, uma cinta, um pedaço do chão, um pedaço do teto a se substituir, isso nunca acaba!
Morar aqui é legal, talvez não seja supimpa, mas tudo isso tem oportunizado que eu ensine meu filho e ele aprendendo cresceu e ambos aprendemos muito, nos construindo e nos reformando, pois ele também estava muto dolorido e houve mais dor até entender a nova cultura. A dor foi nossa irmã, é nossa parceira e sofrendo mudamos e nos reinventamos. Ele, eu observo, e ver no que se torna me alegra, de mim  nada sei, a não ser que não temo a passagem do tempo, que não temo a chuva nem o sol, amo o vento, tomar banho segue sendo o ponto alto do meu dia, e se me maquio e não estou num período de importante retenção de líquidos, acho que sou mais bonita a cada dia - isso importa, é eu que devo me reabastecer em auto-estima! - não há muitos prazeres além dos cheiros das flores, não há nenhum prazer advindo de sofisticação e luxo, mas há a esperança e ela aumenta com a idade, por aqui, quando não há doença.
Sigo sendo portadora de Ceratocone, transplantada, anexei a isso o dano na coluna, nas articulações, mas não dá para chamar isso de doença vivendo como vivo. Isso são condições físicas advindas das condições de vida.
Embora sejamos cercados de trepadeiras e elas amem crescer aqui, mais do que as alfaces e pimentões, construímos uma árvore dentro de casa e espalhamos sua ramagem no teto da sala,
Este lugar é muito bom em muitas coisas, muito ruim e poucas, mas o pior de tudo é ser hostilizada sempre que procurei me colocar profissionalmente.
Levamos muito tempo organizado uma biblioteca, e ela é que nos mantém sempre - na maioria do tempo - de alto astral. Não temos tevê nem rádio, só internet e uma máquina computador, as cadeiras ergonômicas não existem e é na mesa de jantar que escrevo. 
Lutamos durante todos estes anos para ter água, só desde o meio deste começamos a receber água todos os dias, anteriormente só tínhamos em dois dias por semana. Tudo bem, acho que isso gerou um trauma que demorará muito a esquecer; a comida que comemos é feita em casa, eu faço feijão num fogão que o Joseph e eu construímos, e só comemos pão que eu faço, sempre que estou em boa saúde. Eu sigo pintando, só que agora faço quadrinhos bem pequenos, comecei esta modalidade de pintura minúscula agora, este ano, e o resultado me alegra, não há vendas, e isso me entristece e nos debilita muito, também não tenho ritmo nem competência fazer tudo o que faço e nem clientes para sustentar-nos com minha arte.
Sofremos sérios revezes judiciais e a pensão que nos mantinha minguou ao ponto de ser vexatória... ao ponto de não permitir ao meu filho fazer financiamento para pagar seu curso universitário. Ele passou no vestibular para Psicologia. Ambos nos tornamos reikianos, eu fiz um curso de Teologia e assim vai a vida.
Recentemente fiz um exame de ultrassom e foi diagnosticado que não tenho mais o ovário direito, que deve ter sido extirpado na violência médica e diagnóstico falso de câncer que nos obrigou a tomar a decisão de vir morar na zona rural de uma pequena cidade do RS, mesmo tendo tido coragem e competência, a determinação para procurar oportunidades de trabalho, mas só conseguir trabalhar de forma voluntária, em São Paulo, que não é todos que se atracam nem têm coragem.
Vestimos roupas que adquirimos em brechós e agora eu costumizo quase tudo o que visto. 
A mim importa que nunca mais fui contaminada com  doença venérea de alguém em quem eu confiava a minha vida, a minha alma e meu físico, e meu filho diz sempre que se orgulha da minha honra e ética.
Quando Camille decidiu partir, ficamos em os dois, duas pessoas, uma sensata e uma sensível, duas sensíveis, uma confiante e outra confinada, duas confiantes,  uma alta e uma baixa, uma muito mais alta que a mais baixa, um jovem rapaz e sua mãe que sempre foi artista plástica e um filho que aprende a fazer arte com uma mãe admirada ao ver o filho aprendendo muito rápido tudo, até programação de computadores.