Obra que pintei em óleo sobre tela e está em exposição permanente na Associação comercial de Pinheiros
Após a cerimônia de premiação do Salão, com Jorge Landmann e Marina Takejame. O texto abaixo, escrevi e publiquei em 19 de fevereiro de 2010 no blog Flor Amarela:"Em 1997, eu compartilhava o atelier com a Iris, ela era braba e enérgica. Controlava-me e proibia que eu deitasse no sofá dela.
Eu a amava como atriz canastrona e a achava muito simpática no desempenho do seu personagem ranzinza.
Na minha metade do atelier ficavam os cavaletes, uma poltrona e algumas mesas de apoio. No lado dela o forno, suas estantes, mesa e um confortável sofá encapado de curvim floral. Eu e meus alunos estávamos proibidos de sentarmo-nos nele.
-Porque, Iris?
-Ah, é porque eu não gostaria mesmo!
O sofá era muito fofo e quentinho. Quando ela não estava, entre um trabalho e uma aula eu deitava e ouvia música.
Não queria aceitar que o Arnaldo Antunes tivesse saído dos Titãs, virado lobo solitário, dava trabalho caçar CDs dele e deles, e mais ainda dissociar um dos outros. Eu já gostava de Engenheiros do Haway e Titãs, mas havia passado muito tempo em silêncio, e agora todo mundo me apresentava músicas. O Celso me apresentou a Enya e a Lorena McKennit, a Maria Eliza me informava em Villa Lobos e Madredeus, e a Inge...não, a Inge dizia que eu não deveria abandonar o estudo da história da arte, nunca, nunca, nunca! Numa tarde, depois de ouvir Cegos do Castelo, pulei do sofá e corri para a serralheria do Aldenor, cortei uns trecos, soldei uns tróços, fui até a IMASA - o senhor Bruno Fuks, o proprietário, me havia dado passe livre, catei umas bolinhas de ferro e retalhos de peças das colheitadeiras para anexar ao meu novo quadro. Mais uma correia de motocicleta e deu!
O Aldenor, agora mais acostumado com a idéia de que tudo que eu fazia, batizava, andava cheio de inspiração, copiou: Vou chamar cada encomenda pelo nome do dono. Ó, esse portão aqui, o nome é Dr. Ibrahim.
Sobre meu painel ele queria saber:
-E essa galinha... passarinho, como vais chamar?Respondi que galinha e passarinho não eram: Talvez...não sei! Mas pode chamar de Cegos do Castelo. Ainda tenho o Cegos do Castelo comigo, de vez em quando mudo a cor, quem o vê, acha o nome pesado e o tema...e a obra. Logo que o fiz esteve pendurado na frente da minha casa feito estandarte! Um dia, quando fui retirá-lo, percebi que estava bordado de furos e amassamentos, perguntei a um entendido, que sério sentenciou:
-Estas perfurações, nesta chapa, foram feitas por calibre tal, este por calibre tal e estes, ah, isso é só chumbo!
Eu já não me deitava no sofá de ninguém, e a Iris continua jurando que encontrar minhas plumas no sofá dela nunca foi motivo para tanta raiva.
De qualquer forma, sempre achei o cúmulo da gentileza, decência e pacifismo, terem metralhado meu trabalho enquanto eu não estava por perto.
O texto acima é introdução ao convite que fiz aos amigos para o 21 Salão de Artes de Pinheiros. A exposição aconteceu no Clube Paineiras, no Morumbi. Havia inscrito duas esculturas e duas telas para o concurso de 2008, sonhava expor pelo menos dois trabalhos. No ano anterior tive um selecionado para a exposição e fiquei encantada com o que vi da organização.
Encantada desde a recepção até a cerimônia de abertura, onde só tratei com pessoas preparadas e gentis, especialmente entusiasmadas com seu trabalho, passara o ano a sonhar com o próximo. Então em 2008, após a fase de análise dos trabalhos pelo júri, me ligaram. Embora não tenha tido dois trabalhos selecionados como almejava, informaram que o meu trabalho em óleo sobre tela, que chamei de “Não Tenho Medo”, fora premiado com Medalha de Ouro. Passei ansiosa o resto do tempo até a cerimônia, medo que fosse sonho, engano ou sei lá...acho que mais pela consciência de que conquista assim desafiava a mais. Uma amiga ao parabenizar-me ironizou:
-Uma anarquista ganhando medalha de ouro num Salão tradicional como o de Pinheiros?
Induziu à crise.
Anarquista, eu?
Acho que eu sempre fui santa... Quase santa?
Nunca fui santa?
Analiso, medito em shinsokan... e chego a conclusão de que a gente nunca vem a saber exata e completamente quem é, o que carrega adormecido espiritualmente, que possibilidades aceita, e força tem diante dos estímulos e desafios que nos chegam quando menos esperamos. Porém, hoje sei que sejam quais forem minhas potencialidades, bom tanto da gana por auto-conhecimento aflorou naquela premiação da transformadora noite em que recebi a Medalha de Ouro no 21 Salão de Pinheiros.
SOBRE A MODERNIDADE
...”Entenda-se aqui, por favor, a palavra artista num sentido muito restrito, e a expressão homem do mundo, num sentido muito amplo. Homem do mundo, isto é, homem do mundo inteiro, homem que compreende o mundo e as razões misteriosas e legítimas de todos os seus costumes; artista, isto é, especialista, homem subordinado à sua palheta como o servo á sua gleba. G. não gosta de ser chamado de artista. Não teria ele alguma razão? Ele se interessa pelo mundo inteiro, quer saber, compreender, apreciar tudo o que acontece na superfície de nosso esferóide. O artista vive pouquíssimo – ou até não vive – no mundo moral e político. O que mora no bairro Bréda ignora o que se passa no faubourg Saint-Germain. Salvo exceções, a maioria dos artistas, deve-se convir, uns brutos muito hábeis, simples artesãos, inteligências provincianas, mentalidades de cidade pequena. Sua conversa, forçosamente limitada a um círculo muito restrito, torna-se rapidamente insuportável para o homem do mundo, para o cidadão espiritual do universo”. Charles Baudelaire
O Salão aconteceu no Clube Paineiras, do Morumbi.
Diretor Superintendente: Roberto Manin Frias,
Presidente da Comissão Organizadora: João Carlos Belda,
Presidente da Comissão Julgadora: Eugênio Bassi.
Encarregada junto a Associação Comercial de Pinheiros e cerimonial: Maria Luiza de Ranieri
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